Tem filmes que chegam quietos, sem prometer muito, e acabam deixando uma pulga atrás da orelha. O Telefone do Sr. Harrigan é exatamente assim. E, claro, não dá para ignorar o motivo principal de eu ter ido atrás dele: Stephen King. O homem tem essa habilidade estranha de pegar situações simples, quase mundanas, e torcer até virar algo que mexe com a gente por dentro.
A história acompanha Craig, um garoto do interior que começa a ler para um milionário recluso chamado Sr. Harrigan. É um trabalho simples, quase uma rotina de companhia, mas que acaba moldando a formação do menino. Enquanto os colegas estão mergulhados no mundo dos celulares, e o filme mostra isso de maneira direta, com a escola literalmente separada entre quem tem iPhone, quem tem outra marca e quem não tem nada, Craig passa tardes inteiras lendo clássicos. Sem discurso motivacional, sem grandes lições. Só leitura mesmo, daquelas que vão afiando o pensamento aos poucos.
Quando Craig finalmente ganha um iPhone e decide comprar um igual para o Sr. Harrigan, o tom muda. Ali começa o que parece quase uma propaganda da Apple. iPhone pra todo lado, cena após cena. Mas o foco está em outro lugar. Após a morte do velho, algo que o trailer já entrega, Craig resolve ligar para o número dele por saudade, por hábito, por impulso. E a ligação retorna. Não com voz, mas com mensagens que nenhum aparelho deveria mandar.
A partir daí, o filme entra naquele território típico do King. O sobrenatural que não explica nada, não aparece claramente e mesmo assim bagunça tudo. Pessoas que Craig despreza começam a morrer de formas suspeitas. O “fantasma” atende, entende e executa. Não há sustos, não tem monstro, só um silêncio estranho que acompanha cada consequência.
Mesmo com essa camada sombria, o coração da história continua na relação dos dois. Craig carrega para a vida reflexões e trejeitos que são fruto direto dos livros lidos para o Sr. Harrigan. E é justamente esse peso que colide com o poder inesperado trazido pelo telefone. O filme vira uma conversa sobre responsabilidade, escolhas e as fronteiras do que a tecnologia deveria ou não atravessar.
No fim, O Telefone do Sr. Harrigan é um conto de amadurecimento disfarçado de suspense sobrenatural, com aquela assinatura clássica do King. O estranho entrando devagar na vida de alguém comum, até fazer tudo ressoar de um jeito desconfortável. Não é um espetáculo, não é explosivo, mas deixa aquela sensação de que algo continua vibrando depois dos créditos.
Filme está disponível na NETFLIX.
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